Beijing, 3 ago (Xinhua) -- Enquanto o mercado global de commodities agrícolas permanece concentrado na soja e no milho, uma cultura antes vista por alguns produtores brasileiros como "predadora de solo" está ganhando espaço no país.
Segundo dados atualizados, o sorgo se tornou o cereal de crescimento mais acelerado do Brasil, com aumento de produção de impressionantes 380% nos últimos dez anos -- saltando de 1 milhão de toneladas na safra 2015/16 para uma projeção de 5 milhões em 2024/25. Com isso, o Brasil se consolida como o terceiro maior produtor mundial de sorgo, e essa ascensão pode ser apenas o começo.
Em julho, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), Paulo Bertolini, liderou uma delegação brasileira na 16ª Conferência Internacional de Cereais e Óleos da China, realizada em Guilin, Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi, sul da China. Na ocasião, Bertolini anunciou que o Brasil busca atingir a marca de 10 milhões de toneladas de sorgo até 2030 e o objetivo principal da missão foi abrir caminhos para ampliar a exportação de sorgo brasileiro ao mercado chinês.
Em novembro de 2024, a China e o Brasil assinaram 38 acordos de cooperação. Nesse contexto, a China aprovou oficialmente a importação de diversos produtos agrícolas brasileiros, incluindo o sorgo.
A China é hoje o maior consumidor mundial de sorgo. Dados de 2025 confirmam que o país lidera as importações globais. Na China, o sorgo tem aplicações que vão muito além da alimentação: ele é matéria-prima essencial nas indústrias de ração animal, bebidas alcoólicas, bioenergia e alimentos funcionais.
Embora a maior parte do sorgo seja tradicionalmente destinada à produção de ração, para muitos chineses a cultura remete imediatamente ao sabor marcante do baijiu -- tradicional bebida alcoólica chinesa. Rico em taninos e proteínas, o sorgo é considerado há séculos o ingrediente ideal para destilar esse tipo de aguardente.
Nos tempos atuais, o sorgo vem ganhando protagonismo no setor de energia sustentável da China. Em comparação com a cana-de-açúcar, ele oferece 18% mais eficiência na conversão para etanol e consome 40% menos água, tornando-se uma alternativa viável para a produção de biocombustíveis.
"Atualmente, no Brasil, duas usinas já produzem etanol exclusivamente a partir do sorgo, o que mostra o avanço desse setor", afirmou Bertolini durante o evento na China. "Além disso, com o DDG, um subproduto derivado do farelo proteico de destilaria, também atendemos o mercado de nutrição animal, e agora temos a oportunidade de exportar para a China, que abriu esse mercado em maio de 2025".
O valor do sorgo vai além disso. Com a crescente conscientização sobre dietas saudáveis na China, esse grão -- rico em amido resistente e naturalmente isento de glúten -- ganha a atenção do público. A indústria alimentícia moderna, por meio de processos inovadores, tem incorporado o sorgo em alimentos processados como massas e pães, melhorando seu valor nutricional sem comprometer o sabor.
Também em julho, o escritório do Serviço Agrícola Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em Brasília (USDA FAS Brasília) divulgou um relatório setorial intitulado "Cultivando o Crescimento: O Estado da Produção de Sorgo no Brasil", apresentando uma análise abrangente sobre aspectos-chave como a produção nacional de sorgo, vantagens do cultivo, melhoramento genético, usos diversificados, perspectivas de desenvolvimento e os desafios do setor.
Apesar de o Brasil possuir um grande potencial para o cultivo de sorgo em longo prazo em todas as regiões, segundo o relatório do USDA, os atuais gargalos em infraestrutura e logística representam desafios significativos, demandando investimentos substanciais. Esses obstáculos podem ser determinantes para a dimensão futura da cadeia produtiva do sorgo no Brasil.
"O Brasil precisa investir em infraestrutura, como armazenagem e adequação de portos. Hoje, grande parte da exportação é feita por container, o que limita nosso potencial. Precisamos melhorar isso para ampliar nossa presença no mercado global de sorgo", explicou Bertolini na conferência em Guilin.